segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

3º espectáculo

OH! QUE DELÍCIA DE COISA

de Miguel Gila


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A instabilidade vivida então por todos os jovens limitava a constituição dum elenco mais ou menos fixo, que desse garantias de futuro. Mas se os resultados da aposta na formação de actores eram incertos havia pelo menos a consolação de se continuar a sua formação como espectadores. Assim, mantinha-se válida a aposta na formação e na busca da estrutura capaz de assegurar um trabalho regular e uma equipa estável.

Nesta perspectiva de formação era fomentada pela ida dos elementos do grupo a espectáculos de teatro, com o pagamento das viagens e de cinquenta por cento dos bilhetes. Posteriormente a análise e discussão dos espectáculos vistos era realizada colectivamente, como forma de estimular o espírito crítico em todos os elementos do CITEC e de os tornar espectadores mais conscientes e activos.

A perfeita noção das limitações teóricas e técnicas existentes determinou muitas leituras, com muita discussão das mesmas e dos caminhos a trilhar. O que sempre foi consensual era o que não se queria fazer, o fazer diferente do que existia. À falta de melhor formação restava o ir ver muitos espectáculos e depois discuti-los, ler tudo o que se encontrava e reflectir sobre essas leituras. E continuar com a produção de peças que fossem estimulantes para todos e permitissem o crescimento do grupo.

O projecto seguinte foi a montagem de “À Espera de Godot” de Samuel Beckett, que se veio a revelar demasiado ambicioso e que abortou por incapacidade de garantir um elenco estável por um período longo de preparação. Este projecto seria talvez mesmo pretensioso para as capacidades do grupo, com o fantasma da guerra colonial a ditar de novo as suas leis.

Após mais uma discussão interna partiu-se para um novo texto, cedido pelo actor Raul Solnado, devido ao empenho do Henrique Milheiro, com o qual se procurou ganhar mais elementos e alargar o nosso público. O espectáculo que se seguiu foi "Oh! Que delícia de coisa" de Miguel Gila, estreado em 25 de Setembro de 1971 no Teatro Ester de Carvalho, mas que foi também apresentado em Santana, Maiorca, Tentúgal e Alfarelos. Foi o crescimento do CITEC para fora de Montemor.

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* Excerto de “Contributo para a História do CITEC – Montemor-o-Velho (1970-1974)” publicado na Revista Monte Mayor, editado pelo CMMV


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Na comemoração do nosso 2º aniversário esperamos que seja possível a realização de um ciclo de teatro no cenário natural que é o Castelo, a principal atracção turística da nossa terra.

Hoje irão assistir a um espectáculo que tinha sido programado para Abril ou Maio, portanto são quatro meses a separar o projecto da realização do mesmo, mas sendo aqui e agora até talvez seja para rejubilar por haver apenas este atraso. A incorporação no serviço militar de uns e o afastamento temporário do nosso convívio de outros, gerou um atraso mais ou menos considerável em todos os nossos projectos.

O espectáculo desta noite fará rir, embora nem sempre caia na piada fácil, porque pretendemos que o publico não consuma e digira este espectáculo comodamente sentado nas cadeiras, rindo quando o fizerem rir. A sua encenação é o resultado da acção de um triunvirato, portanto um somatório de ideias e de conceitos, cujo resultado esperamos que seja o melhor possível. As oscilações que o desempenho apresentar serão fruto das mutações sofridas ao longo do tempo pois a distribuição de personagens apresentadas esta noite foi encontrada à quarta tentativa, daí o tempo perdido.

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* Excertos do texto lido na estreia deste espectáculo em 25 de Setembro de 1971.


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Agora para finalizar, focaremos a razão principal porque viemos aqui. Queremos que o CITEC seja uma equipa, em que todos os elementos comunguem do mesmo sentimento de alegria ou de tristeza. Esta é a ideia básica do nosso pensamento “citequiano” e a razão do nosso existir.

Hoje, para todos nós, é um dia de azáfama e de preocupações, mas no fundo também de prazer, que no final será redobrado se tudo tiver corrido normalmente. Mas na nossa equipa faltam quatro elementos e viemos aqui precisamente para os lembrar.

Um está aqui entre vós, ainda há pouco tempo andava aqui a viver os nossos problemas e deve estar tão nervoso como se estivesse lá dentro a prepara-se para entrar em cena. Outro vi-o hoje de manhã. Metido numa farda verde e de saco de viagem na mão, a ir para não-sei-onde. A estes dois que ainda estão no nosso convívio, queremos apenas lembrar-lhes que continuam a fazer parte da equipa, quando se desfardarem cá os esperamos. Mas hoje queremos recordar, de um modo especial, os outros dois que já estão no outro-lado-do-mar, mas que continuam bem presentes em todos nós, une-nos o fio da esperança e da compreensão, tal qual cordão umbilical que mesmo depois de cortado persiste em unir o fruto a quem o gerou.

Publicamente queremos prestar homenagem ao jovial de Argel e ao eficaz do João Florido, não vamos enumerar o que fizeram, diremos apenas que foram peças fundamentais para o bom funcionamento do CITEC. Por isso, solicitamos a todos vós que quando nos patearem ou aplaudirem, os englobem na vossa pateada ou no vosso aplauso, pois assim reforçarão o cordão umbilical que nos une e os conserva vinculados á equipa que formamos. Esta é a nossa homenagem, que é simultaneamente um pedido.
(...)
* Excertos do texto lido na estreia deste espectáculo em 25 de Setembro de 1971.


Ficha técnica do espectáculo:

Elenco: António Veneza, Carlos Alberto Cunha, Deolindo Pessoa, Henrique Milheiro, João Pimentel Leal, Maria Adelaide Carraco, Maria Elisa Oliveira e Marilia Morais Oliveira.

Montagem, Som e Luz: António José Chaves, António Oliveira, Licínio Cadima e Henrique Maranha.

Caracterização: Carlos Oliveira Cunha

Encenação: Deolindo L. Pessoa

Estreia: 25 de Setembro de 1971.

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